Adeus.



E num belo dia, chegou em casa depois do trabalho e colocou seu CD favorito para tocar. Os passos eram calmos, lentos. Não tinha mais pressa. O jantar foi preparado de forma impecável, bem como a sobremesa e o suco. Depois de satisfeita, arrumou a cozinha, a casa e sentou-se para assistir o filme favorito com uma taça de vinho e uma barra de chocolate. O que mais faltava? Chorou com no fim do filme, secou as lágrimas, tomou um banho relaxante e colocou sua roupa favorita. Novamente seu CD favorito começava a tocar. Sentou-se a mesa e em uma folha em branco deixou a caneta seguir seu curso.


"Não sei como dizer ou explicar, também não sei o que motivou ou o que aconteceu. Apenas não consigo prosseguir. Não vou me desculpar, afinal não estou fazendo nada de errado. Chega uma hora em que simplesmente a pessoa não aguenta mais, quando você chega a beira do precipício e precisa decidir se vai pular ou não. Eu decidi pular e não há mais volta. Não espero que entenda, também não quero drama ou minha foto em milhões de compartilhamentos no Facebook. Aconteceu, acabou, passou. Para os que ficam resta apenas aceitar o fato e continuar a viver. Tenho plena consciência de tudo que estou abdicando, dos sorrisos que jamais darei, dos abraços negados, dos momentos felizes que talvez tivesse. Mas, lembre-se que também deixei para trás as lágrimas que derramei, o aperto no peito, o sofrimento e dores que jamais imaginei sentir. Sempre fui adepta da frase "Cada um carrega a cruz que suporta" e eu sucumbi ao peso. Deixo um adeus, pois também sei que para onde irei, não te verei novamente. Sim, eu tenho plena consciência das consequências de tudo isso. Não pense que fui fraca, que sou uma tola por ter desistido. Assim eu vivi e assim foi o meu fim. Já vivi tudo o que deveria, sofri além do que aguentei e espero ter encontrado a paz dessa forma. Se já me viu sorrir sinceramente algum dia, guarde essa imagem em sua mente e lembre-se de mim sempre dessa forma. Não derrame lágrimas, fique feliz pois, finalmente estou em paz."
Terminou de escrever, pousou a caneta sobre o papel, a deixou ali de forma que não prejudicasse a leitura do texto, executava suas manias até o fim. Acariciou as letras em baixo relevo pela força das escrita e sorriu, aquele sorriso sincero que chegava até seus olhos. Foi até o banheiro onde se olhou no espelho, lavou o rosto e penteou o cabelo. No quarto sentou-se de forma confortável na cama, encostada na cabeceira, relaxada... A mão trêmula guiava o estilete até o pulso esquerdo. Respirava fundo e começava a marcar a pele, um corte na vertical, pequenos na horizontal. Assistia por alguns segundos os filetes de sangue sujarem sua roupa escolhida com tanto esmero, mancharem o lençol... Mas mesmo assim sorria.

Com a mão já suja iniciava o ritual no outro pulso, era incomodo e não saíam tão perfeitos como planejara. Estava feito. Ficava sentada ouvindo sua música favorita ao fundo, tudo cronometrado em um timing perfeito. Assistia o sangue acumular-se sob seu corpo enquanto sua vista escurecia. Estava tonta, então deitou o corpo deixando que a mão alcançasse a rosa vermelha, já murcha e sem vida, uma dolorosa lembrança que levaria consigo. As últimas lágrimas embaçavam sua vista já distorcida. Fechava os olhos e deixava seus lábios adornarem o rosto com um último sorriso.

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