No fundo...



E então, você passou por mim. Eu sabia que estava a caminho do fundo do poço pois eu já estive lá. Conheci muito bem a escuridão e foram longos anos até conseguir galgar até a metade do caminho, eu sabia que não poderia desistir agora mas no breve instante em que meu olhar cruzou com o seu, eu pude ver seu desespero e sua dor. Soltei a parede limosa, desisti do meu breve sucesso e deixei a gravidade levar meu corpo até o fundo do poço junto ao seu.

Lá em baixo era frio e escuro, mas comecei a enxergar em você a minha luz e não poderia deixa-la apagar dessa forma. Segurei sua mão, te acalentei e sequei suas lágrimas, te abracei e abrandei a sua dor. Fechei suas feridas até que fossem apenas pequenas cicatrizes em sua pele branca, pele essa que eu adorava acariciar, sentir o cheiro, marcar com meus lábios... Pude ver sua melhora, o sorriso que agora por mais vezes ponteava seu rosto, a risada que reluzia em seus olhos.

Então era a hora de partir. Novamente estava de mãos dadas com você e lentamente fui te puxando para o topo do poço, escalando a parede de vagar e sem pressa pois eu sabia que você poderia sair de lá, que eras forte e merecia toda a felicidade que o mundo te oferecia. Finalmente sentíamos a brisa, os finos raios de sol. Sua mão escorrega e eu te seguro, não é esforço nenhum para mim... Eu não poderia te deixar cair de novo e num último exaltar eu te lanço para fora.

Posso ver tua sombra, teus paços dançando com a liberdade, tua risada e meu coração se alegra. Estendo a mão a procura da sua, mas apenas ouço seus passos distanciando-se... Te chamo, não há resposta. Grito teu nome e apenas o vento me responde. A lágrima escorre do meu rosto, mas chego ao fundo do poço antes dela. E lá permaneço tendo apenas lembranças a me torturar.

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