A importância de sentir
Imagem: Redhuble/Google. |
Em outras épocas as mulheres tinham cursos e intensivos em alas psiquiátricas para estarem sempre sorrindo. Chorar para os homens é sinal de fraqueza. Desde pequenos somos alertados sobre nossos sentimentos. Condicionados a importância de, por muitas vezes, escondê-los. Na infância ouvimos sempre "dá um sorriso pra tia", "vixiiii essa menina só vive de cara fechada". Pelo menos era o que eu mais ouvia da minha mãe, mas e se eu não quisesse sorrir naquela hora? Se eu estivesse triste? Tinha que sorrir assim mesmo.
Na adolescência tudo se intensifica, uma tragédia maior que a outra, a primeira briga com o primeiro namorado, todos os dramas, fingir que não gosta de coisas ou que gosta só pra agradar, fingir que não gosta de alguém e sofrer em silêncio. O medo do primeiro "eu te amo". Esse te acompanha por toda a vida em todos os relacionamentos. Nos apegamos a vários "e se...?". Se ele/a não sentir isso? Se for cedo demais? Se ele/a se aproveitar disso pra me iludir? Será que eu sinto isso mesmo? Será que vai retribuir?
Quando temos depressão um conglomerado de outros sentimentos se unem a todos os outros. O medo aumenta, a tensão, a dúvida. Quando não sabemos que estamos doentes insistimos em parecer bem. Nos forçamos um sorriso e seguimos em frente, sem entender por que estamos triste, por que esse vazio nos assola.
Então descobrimos que pode ser mais do que uma tristeza. Percebemos a constância, percebemos os olhares julgadores, percebemos as críticas pelo nosso "excesso de negatividade" ou de tristeza. Então começamos a investigar e descobrimos a doença, vemos relacionamentos ruírem, amizades se afastarem, a dificuldade da família em lidar com as crises.
Então tomamos a pior decisão de todas: escondemos nossas crises por medo do que possa acontecer. Vamos fingindo sorrisos, fingindo estarmos bem. Colocamos uma máscara ao sair de casa pra encarar o mundo e quando chegamos, desabamos. As pessoas pensam que você é feliz e que está tudo bem e você colabora. Mantém o sorriso, as interações externas mas sempre evitando maiores convívios.
Vai engolindo a dor, empurrando aquele nó na garganta mais pra baixo, engolindo mais e mais lágrimas, até que a represa se rompe e somos obrigados a nadar sem saber nesse oceano de dores e sofrimentos guardados. A nadar sem salva-vidas, sem bote.
Não conseguimos chegar até a margem, continuamos ali... Boiando, passando por calmarias e tempestades, nos mantendo simplesmente, boiando. Os sorrisos fingidos de cada dia voltam, arrumamos mais desculpas pra evitar interações após o expediente ou nos fins de semana. Inventamos compromissos e problemas variados pra nos isolarmos. Afinal, quando as pessoas descobrem que estamos naufragados nesse mar, se afastam, não é? Aprendemos isso.
Mais lágrimas são engolidas, mais sentimentos empurrados, mais o nós vão se juntando e quando percebemos passamos mais uma vez pelo rompimento da barragem, mas dessa vez é diferente, já estamos na água, não é mesmo? A tempestade é mais forte, somos jogados de um lado pro outro, o vento não para, as ondas não param de vir, uma maior que a outra, uma mais forte a outra. Estamos cansados de nadar, já não conseguimos mais mexer os braços, procuramos motivos pra continuar, procuramos no horizonte um porto seguro.
O porto está logo ali, ao lado, mas as lágrimas não nos deixam enxergar. Mais lágrimas, muito mais lágrimas. As ondas ficam mais fortes e nós, mais fracos. Tentamos engolir todas as dores, temos mais uma vez soterrar todos os sentimentos e assim, nos afogamos.
Entendam que tá tudo bem não se sentir bem, tá tudo bem não sorrir, tá tudo bem que seu rosto expresse o que você tá sentindo. Ficar escondendo os sentimentos, ficar fingindo sorrisos, escondendo nossas dores não faz mal a ninguém além de a nós mesmos. Percebam também que existem pessoas que estão do nosso lado, que estão dispostas a nos dar a mão, a nadar com a gente e, algumas, pela gente. Não faz vergonha pedir ou aceitar ajuda.
Percebam também que existem pessoas que estão do nosso lado, que estão dispostas a nos dar a mão, a nadar com a gente e, algumas, pela gente. Não faz vergonha pedir ou aceitar ajuda.
ResponderExcluirIsso também vale pra você, você não está sozinha.
Adorei o texto. Sei exatamente o que é isso e venho lutando com esse sentimento a um bom tempo. Infelizmente, são poucas pessoas que realmente o que eu sinto e passo, isso por que eu não tenho coragem de dizer a certas pessoas que realmente se preocupam comigo por que não quero ser um fardo na vida delas. De uns tempos pra cá, eu só penso isso, que sou um fardo na vida das pessoas, um peso, que seria melhor ser jogado fora, que facilitaria a vida das pessoas.
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